quarta-feira, 21 de março de 2012


Ela estava como sempre com os fones de ouvido, se escondia em teu próprio mundo. Diziam que ela poderia ser atropelada, por não prestar atenção, a não ser naquela música tão alta. Voltava para casa de onibus e um pouco a pé, como qualquer dia. A menina, quando chegava em casa, andava até seu quarto e jogava a bolsa, sempre no mesmo canto, e ali deixava seu all star. Fechada em teu quarto a menina aumenta o som, ela levanta as mangas e vê ali cicatrizes de mágoas passadas. 
-Por que eu fiz isso? Por quê? - Ela se perguntava. 
Lembranças imediatamente vieram no seu pensamento. E bem ali estava a resposta. Uma que ela hoje não acha um motivo tão grande para uma atitude dessas. 
- Minha mãe sempre brigava comigo, ela estava cansada de ouvir os outros reclamando de meu comportamento que para eles era rebelde. E eu confesso a falta de respeito que tive. Meu pai, por culpa minha brigava com a minha mãe. E porque eles ainda se falam? Sei la... 
A menina aumentou o som, ela chorava e não queria ser questionada se ouvissem teu choro e seus gritos mais silenciosos. 
- Lembro da noite que sai de casa, nossa que tolice a minha. Fiquei umas 3 horas fora, e retornei, por medo da escuridão e da solidão. Solidão, que palavra assustadora e que tanto me assombrava. 
Ela tinha muitas pessoas ao seu redor, sabia disto, mas sempre sentiu que nunca se encaixaria, que ali ninguém a queria, ninguém gostava dela, e não via motivos para alguém gostar.
- E esse espelho? Eu odiava tanto a imagem. Essa cara de menina adoecida, essas gordurinhas na barriga, esse corpo mal feito. Eu achava o meu sorriso, o mais feio. Eu me escondia dele, toda vez que passava por um, eu tentava não fixar o olhar e me perder no pensamento de como era feia aquela imagem, só por ser minha. 
A menina sentia não ser suficiente para nada nem ninguém.
- Como fui burra de acreditar nas palavras daquele idiota? Chorei tanto por desamores em minha vida, que chego a desacreditar na palavra amor. Nunca foi para dar certo, não para mim. Idiota, essa sou eu. Ilusão que acabou comigo.
- E esses sorrisos que todos chegam a acreditar? Esse silêncio é o mais alto possível, e está me machucando tanto. Tenho duas caras, e não sei como as mantenho. De noite, é aquele choro, até eu finalmente dormir, e me perder nos sonhos. Porém de manhã com a cara de choro, eu preciso esconder toda aquela imagem de pessoa fraca, uso a maquiagem, e coloco o sorriso mais falso na cara, porém o que todos acreditam. Se alguém se importa mesmo, porque ninguém chegou a perceber, ninguém chegou a me ajudar?
Ela aumentou ainda mais o som, e ali começou a dançar, não precisa ser no ritmo da música, ela estava solta, estava sorrindo, se divertindo. Ela olhou no espelho e ali mesmo falando sozinha dizia estas palavras com clareza que as faziam delas verdadeiras, pelo menos para a ela.
- Eu não vou mais me trancar no meu quarto, estou perdendo boa parte da minha vida por nada mais, nada menos que problemas que eu deveria ter a capacidade de enfrentar, eu sei que posso. Eu posso não ter encontrado meu lugar, mas um dia irei. Eu tenho minha própria beleza e meu próprio potencial, ninguém tem como contrariar. Eu não vou desistir. Tive minha fase de quase destruir minha vida, mas agora? Agora eu tive uma nova chance, e dela eu farei uma única. Erros e aprendizagens com um toque de diversão e encontrarei minha felicidade, em mim, em amigos, em minha família, em Deus, e até quem sabe em um novo amor. Só sei que no final de tudo, eu irei deixar a tristeza sendo a espectadora.

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